A BRF (Brazil Foods) BRFS3 foi criada a partir da união da Perdigão e da Sadia, cuja fusão foi anunciada em 2009 e concluída em 2012. A empresa integra o Novo Mercado da Bovespa, o que favorece os acionistas minoritários, além de também ter papéis negociados na Bolsa de Nova York.
Uma das maiores produtoras de alimentos de carne in natura e congelada do mundo (14% do comercio mundial de aves) é proprietária de marcas como Sadia, Perdigão, Qualy, Chester, Perdix e Paty. A operação inclui 47 plantas em todas regiões do Brasil responsáveis por 680 mil entregas mensais, 42 centros de distribuição (27 no mercado doméstico e 15 em mercados de exportação). Fora do Brasil, mantém 19 escritórios de vendas, servindo clientes em mais de 120 países. As subsidiárias estão listadas na imagem abaixo:
Desde o final do ano de 2015, as ações da BRF têm sofrido quedas substanciais na Bovespa. De R$ 71.55 em setembro de 2015, o papel hoje é negociado a R$ 44.31, tendo passado pela mínima de R$ 35.80 em março de 2017. O gráfico abaixo mostra as oscilações do papel nos últimos 5 anos:
Operação Carne Fraca
Em março de 2017, a imagem da empresa foi negativamente afetada por seu envolvimento na operação deflagrada pela Polícia Federal: “Carne Fraca”. A investigação teve por objetivo apurar denúncias de comercialização de carne estragada através da adulteração dos alimentos com substâncias supostamente cancerígenas e alteração das datas de vencimento informadas nas embalagens.
O funcionário da BRF de mais alto escalão investigado na Operação Carne Fraca é Roney Nogueira dos Santos, Gerente de Relações Institucionais e Governamentais da BRF. As acusações vêm de ligações interceptadas entre Santos e o suposto líder da quadrilha investigada, Daniel Gonçalves Filho. Além disso, Santos teria negociado com o Superintendente do Ministério da Agricultura em Goiás para manter aberto o frigorífico de Mineiros, mesmo diante de um parecer que recomendava seu fechamento (presença da bactéria Salmonella). A BRF também é alvo da acusação de que haveria papelão em carne moída para fazer salsichas.
Em resposta as acusações, a BRF divulgou em comunicado oficial ter tomado as providências para apurar as denúncias relacionadas à Operação “Carne Fraca”. A empresa instituiu o Grupo Certificador de Qualidade para reatestar a adesão da Companhia aos padrões internacionais de qualidade. Também criou o Comitê Especial de Resposta, liderado por Luiz Fernando Furlan, ex-Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Conselheiro da BRF. Este Comitê acompanhará a situação atual da Companhia e proporá respostas aos atuais desafios enfrentados pela BRF. O trabalho de apuração das denúncias está a cargo do Comitê de Auditoria Estatutário, com a assessoria de escritórios externos de advocacia brasileiros e internacionais.
Dado o escândalo sanitário da Operação “Carne Fraca”, grandes importadores de carne em nível global emitiram suspensões ao produto brasileiro. Em maio de 2017, o Ministro da Agricultura Blairo Maggi declarou que 10 países ainda não decidiram se abrirão seus mercados às importações de carne brasileira, mas que representavam um volume pequeno do mercado de exportação brasileiro.
Resultado trimestral
O quadro abaixo resume o resultado trimestral da BRF em comparação com o mesmo período de 2016. A análise dos números demonstra piora dos principais indicadores financeiros:
A empresa teve números bastante fracos no primeiro trimestre de 2017, abaixo da expectativa do mercado. De forma geral, a empresa sofreu com a suspensão temporária de alguns mercados em decorrência da Operação Carne Fraca, variação cambial, alta nos preços dos grãos e estoques elevados.
A receita liquida caiu 3.8% (totalizando R$ 7.8 bilhões) principalmente por preços mais baixos dos produtos in natura dada maior oferta doméstica. O EBITDA retraiu 50.7%, fechando o trimestre com R$ 506 milhões, e o prejuízo líquido de R$ 286 milhões reverteu o lucro do ano anterior.
A empresa informou seus acionistas que a metodologia para apurar o Market Share da empresa foi alterada em janeiro de 2017. Pela nova metodologia, alguns pequenos players que não tinham representatividade, mas estavam presentes no pequeno varejo, acabam ganhando mais relevância e diluindo em alguns casos o peso dos players maiores. Pela nova metodologia, a BRF perdeu mercado em todos segmentos, o que foi explicado pelo aumento de preços efetuado em dezembro de 2016.
A geração de caixa operacional da empresa foi negativa em R$ 245 milhões, em função da variação negativa no capital de giro e consumo de caixa operacional. O impacto do resultado financeiro e variações cambiais do trimestre foi negativo em R$ 383 milhões e a variação da dívida foi positiva em R$899 milhões (captações liquidas no trimestre).
A dívida liquida da Companhia ficou em R$ 12.2 bilhões, comparado aos R$ 11.1 bilhões no 4T16. Este aumento foi devido ao consumo de caixa na operação. Ou seja, a empresa está mais endividada e gerando menos caixa. A dívida da empresa é motivada pelos seus planos de expansão de suas operações em nível global.
A empresa tem perfil de crescimento e, por isso, não distribui dividendos para os acionistas de forma agressiva. De acordo com seu Estatuto Social, o valor mínimo de distribuição é de 25% do lucro líquido ajustado. Desta forma, não consideramos uma boa opção para carteira de dividendos pois o dividend yield não é expressivo.
No momento, também não recomendamos o papel para investidores que busquem valorização do papel, pois a tendência de curto e médio prazo não parece ser de valorização expressiva, dado o fraco resultado trimestral. Apesar das qualidades da empresa (presença internacional, marcas fortes) preferimos ficar fora do papel e aguardar sinais de que a gerencia da empresa conseguirá solucionar os problemas atuais da Companhia.